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Indivísivel

"Um olhar afetivo sobre corpos, alma, leite e amor"

   A fotografia é uma linguagem poética que gera ao espectador o afeto e a sensibilidade, pensando nisso este projeto utiliza desta ferramenta para sensibilizar a sociedade em geral, mas em especial as mulheres,

 

  Nota-se uma carência de relatos verdadeiros e coerentes com a realidade, quando se trata deste assunto, assim a fotografia ilustrará de maneira enfática a fala e o sentimento das mães.

   Indivisível por Vanessa Meyrelles

   Registrar essa caminhada que é amentar é uma ideia que floresceu dentro de muitos corações femininos,  apenas fui canal para que elas se expressassem por meio dos registros e com eles a voz, o movimento, o êxtase, o desabafo, o amor. uma revoada de sentimentos e impressões, delas e meus.

 

   O processo criativo que me moveu me fez olhar para cada mulher de maneira única e individual. nessa fase do projeto, uma foto única com todas amamentando não seria suficiente, teria que coletar uma a uma as fotos. muito do que senti, sinais coloquei nas imagens, tudo ali tem um motivo de ser. desde a escolha das fotos, ambientação e edição.

   Foi uma caminhada difícil.

 

   Difícil conciliar agendas, colher depoimentos, foi um longo processo onde conciliávamos nossas vontades com as dificuldades. Recebi apoio principalmente de pessoas não ligadas diretamente a essa questão, mas que se sensibilizaram, cederam espaços e fizeram parcerias.

   Nosso desejo?

 

   Conscientizar Mães, pais, cuidadores a respeito da importância do aleitamento em diversas fase da vida do bebê-criança, sensibilizar a sociedade, difundirmos sobre a importância da amamentação tardia, naturalizar e "descriminalizar" o aleitamento em público, apresentar de maneira artística a essência de mulheres e bebês e dar voz as mulheres nesse processo de aleitamento.

   Indivisível por que?  porque amor não se divide, não se rotula. não é fracionado. é substância única.

   Aos meus parceiros incríveis, gratidão!

   Camila Cristina soares, Maria Carolina Machado (Mamangava), Dilma Dominiquini e Daniel de Almeida (OgroDoce) responsáveis pelo audiovisual, meus sinceros agradecimentos.

 

Indivisível

para todos nós.

LUTA - RESISTÊNCIA - AFETO - DOAÇÃO - SUPERAÇÃO

GALERIA

Aline de Almeida Gillo

Mãe de Kauê e Caio

 

Meu desejo por maternar nasceu de uma gravidez e um aborto (ambos espontâneos). Lembro da dor da impossibilidade de ser mãe daquele serzinho que se foi, mas Deus foi grande em seu amor por mim e, no mês que aquele bebê nasceria, já estava grávida de quatro meses.

 

Kauê nasceu de cesárea – estava começando a me informar sobre parto humanizado mas não o bastante para lutar pelo meu – e demorou 10 horas para pegar no peito. Foi dolorido, mas ao mesmo tempo maravilhoso. Meu filho, eu, somente nós dois naqueles momentos de doação e amor.

 

Com pouco mais de um mês, ele já sofria de um refluxo fortíssimo (bem maior que aquele fisiológico e que a maioria dos bebês têm). E era aí, exatamente neste ponto, que nascia minha militância em ser mãe e, naturalmente, seguir amamentando. A pediatra e a gastro cogitaram por algumas vezes introduzir a fórmula, graças às tentativas frustradas de encontrar o alimento que causava a alergia e consequentemente, o refluxo.

 

Certo dia, com três meses, ele engasgou com o remédio para refluxo (foram apenas algumas gotinhas e ele estava sentado) e quase desmaiou. Levamos para o hospital às pressas e decidimos não correr mais riscos: ali fiquei com ele, internados por 6 dias, garantindo que aquele episódio traumático não voltaria a se repetir e, caso ocorresse, estaríamos respaldados pela equipe médica.
 

Naquele hospital fui gentilmente convidada por três médicos a parar de amamentar, pois eu já “havia feito a minha parte como mãe”. Não concordei, segui amamentando e um mês depois, sozinha, encontrei o motivo da alergia dele: Soja!

 

Tirei da minha alimentação e tudo ficou absolutamente ótimo. Kauê estava curado!

 

Até que, quando meu lindo bebezinho estava com sete meses, eu engravidei novamente. Aí começou a sessão tortura de opiniões familiares/amigos/médicos contra eu continuar a manter a amamentação – que naquela altura era de apenas três vezes ao dia. Bati na tecla do NÃO e munida de algumas poucas opiniões a favor e pesquisas pela internet de casos que  deram certo sim, resolvi que meu filho, tão pequeno, não seria privado do maior bem que eu poderia dar a ele – meu leite. Mas esse capítulo havia de ser o mais doloroso.

 

Até o terceiro mês de gravidez eu sofro do que os médicos chamam de hiperemese gravídica, que nada mais é do que fraqueza e dores extremas nos músculos, vômitos (média de 12 por dia) e indisposição total.

 

Resultado: a cada dois dias, eu passava por uma consulta no pronto socorro da maternidade para tomar soro e vitaminas, já que nada que eu bebia ou comia, ficava mais do que um minuto no meu estômago. Nesse período precisei ficar internada e, confesso, esse foi o dia mais difícil, me emociono até hoje ao lembrar. A pediatra do Kauê me explicando que, fraca daquele jeito, eu não estava suprindo a minha necessidade básica para aquela gravidez, quanto mais do meu filho. Naquele momento literalmente não tive forças, deixei que comprassem o leite em fórmula e tentassem dar ao Kauê, que na época estava com 8 meses. Para minha felicidade geral ele não aceitou, não tomou nem um gole sequer! Foi ai que uma enorme alegria e desejo de superação me tomou, saí daquele hospital e passei o restante daquele período crítico aos cuidados de familiares, mas nunca sem deixar de amamentar.
 

Confesso que nem sei como, apenas acho que quando fazemos algo com amor não existe absolutamente nada que nos impeça de sermos vencedores. Do total de 22 médicos que me consultei naquele nesses três meses, 19 foram contra eu manter a amamentação durante o período gestacional, dois deles disseram que eu poderia continuar apenas até as 23 semanas e um, apenas um, disse que se eu não tivesse complicações, poderia seguir até o final.

 

E eu não amamentei até o final da gravidez, eu amamento até hoje! Senti dores nos seios devido à sensibilidade da gravidez, quase deixei de ter leite lá pelos seis meses, mas aos oito, uma surpresa: tive colostro! Claro que eu sempre acompanhei o evoluir saudável do feto, queria trazer benefícios para um, sem descuidar do outro. Essa sempre foi minha maior intenção. E consegui! Caio nasceu grande e saudável, mamou nos primeiros minutos de vida, esteve comigo todo o momento do pós-parto e, pasmem, Kauê também estava lá. Até as enfermeiras vinham conhecer os irmãozinhos que mamavam. Fomos tratados como ilustres naquela maternidade.  

 

Após o nascimento muitos questionaram – até mesmo nutricionistas – da qualidade do leite, que não traria benefícios para um recém-nascido por ser de um bebê maior – Kauê estava com um ano e quatro meses.

Mas contrariando as opiniões, eu tive colostro, aos três dias o leite desceu, tive super lactação de leite até os dois meses e meio do Caio e, sim, a saúde e a vitalidade deles é invejável.

Sou muito grata às mães que militam a favor de um parto e uma maternagem humanizada, pois foi nelas que eu me espelhei para construir a mãe que eu sou hoje. Tenho dois meninos: Kauê de três anos e três meses e Caio, de um ano e onze meses, que mamam duas vezes ao dia.

 

Antes que possam se perguntar: sim eu trabalho, saio com amigas, enfim, faço tudo que todos fazem. Mas não deixo de amamentar. Porque gosto, porque eles gostam, porque nos faz bem! E quando me perguntam até quando, respondo que só nós três saberemos quando chegar a hora de parar.

Camila Cristina Soares

Mãe de Olívia e José

   Já se passaram dois anos e quatro meses de amamentação ininterrupta, divididos entre dor e delícia, fadiga e felicidade, amor e desamor.


    É neste misto de sentimentos que se passa a amamentação na minha experiência. Primeiro com a Olívia uma bebê preguiçosa que quase não mamava, tinha preguiça de abrir a boca a consequência uma pega ruim. Com muito amor e persistência nós nos ajeitamos e conseguimos nos amar pelo nutrir.

 

   Com 10 meses ela decide por si que não era mais necessário aquele nutrir e já me preparava para a segunda etapa.


    Passam-se 40 semanas e vem o Zeca, menino forte de pega perfeita! Já nasceu, literalmente, sabendo o que fazer. E cá estamos nós, mais 7 meses de nutrir e amar. Ele guloso e muito mais dependente do que ela, me colocou (e ainda coloca) a prova!

 

   Será que dou conta? Será que consigo? Eu quero chupeta na boca desse ser! Mas a ocitocina e o afeto vence a cada dia! Agora rola muito mais amor do que nutrição!


   É claro que depois de noites dormindo de meia em meia hora, intercalada por mamada, o cansaço fala mais alto que o amor e da aquela vontade de desistir!     

 

   Mas a ai a ocitocina vem de novo dando aquela carga gostosa de de amor e afeto e nos renova fazendo começar tudo de novo.

Jéssica Telles

Mãe de Lucas

   Amamentar sempre foi meu maior sonho dentro da maternidade. Como profissional que atua atendendo mulheres desde a gestação até o pós parto, vivenciei várias situações relacionadas à amamentação e tinha idéia do quão desafiador e complexo esse processo pode ser.

 

   Justamente por ter informação, imaginei que teria uma certa “vantagem” quando chegasse a minha vez. Então engravidei. Foi assustador, não planejado, num momento bem complicado da minha vida. Quando pensava no futuro, não me vinha medo do parto, me vinha o medo de não conseguir amamentar.

 

   Lucas nasceu num dia especial, num parto fácil, melhor do que eu sonhava. Tentei imediatamente colocá-lo no peito pra mamar e acabar minha neura. Com uma certa dificuldade, pegou e mamou um pouco. Nos dois dias que se seguiram, ele apresentava muita dificuldade em manter a pega, então eu ordenhava e oferecia na colher pra ele. Foram dois dias muito quentes em Campinas.

 

    Ele desidratou, teve febre por isso e perdeu mais peso que o esperado. Entrei em pânico. Eu não aceitava que tinha algo errado.  Tivemos que pedir ajuda. Prontamente nossas parteiras maravilhosas vieram nos ajudar e eu passei a ordenhar leite a cada 2h para oferecer. Minhas mamas ficaram edemaciadas de tanto massagear e ordenhar, fiquei sem dormir por dias. Eu não aguentava mais tocar nelas. Eu tinha muito leite e parecia que não sustentava, pensei que eu não seria capaz de alimentar meu filho, chorei horrores, ouvi as maiores barbaridades das pessoas ao redor... nossa pediatra também deu muito apoio, me escutou, me mostrou que tudo bem a gente ter dificuldades.

 

   Eu era profissional, mas nunca tinha sido mãe. Ele voltou a ganhar peso adequadamente, todos os exames normais.

 

   Com o passar dos dias, ele começou a mamar no peito. Na minha felicidade de ver ele mamar, não percebi que a pega estava errada. Feriu meus mamilos, a dor era insuportável. Pensei em desistir. Eu chorava só de pensar que estava perto do horário dele mamar.

 

       Chorava durante e chorava depois. O marido me mantendo forte e me estimulou a pedir ajuda novamente. Eu só queria que ele não mamasse mais, toda mamada eu dizia que seria a última. O marido me fez lembrar que amamentar sempre foi meu sonho.

 

   Finalmente, pedi ajuda a uma professora minha que me deu todo o apoio mesmo à distância, ajudou a corrigir a pega, a cicatrizar a lesão, a reduzir a dor. Em seguida, um ducto na mama esquerda entupiu. A dor era enorme, só conseguia amamentar na mama direita. Tive que romper a bolha que se formou, massagear para desentupir e colocar ele pra mamar. Foi horrível.

 

   Depois disso tudo nos acertamos. A amamentação começou a fluir para nós e eu me senti bem. Isso só aconteceu após completar 1 mês de vida do meu filho. Não senti mais dor, não senti mais medo, me senti capaz de suprir suas necessidades.

    

   Agora me sinto completa e realizada na amamentação.  

Vanessa Meyrelles

Mãe do Álvaro

   Eu não sabia como lidar com uma história de amamentação bem sucedida.

 

   Quando procurava relatos, vi muitos casos de insucesso devido à pega errada, falta de apoio. Eu achava que dor era parte integrante de amamentar. Achava que com a introdução alimentar meu filho deixaria meu peito. Achava que com 01 ano ele não ia querer nem chegar mais perto deles e enfim, estaria tudo certo.

 

   Mas não foi assim!

 

   A amamentação fluiu sem problemas por aqui, recebi na minha vida um bebê faminto e super demandante que sabia mamar. Virou um piercing, um plug.

 

   Eu ficava horas sentada no sofá amamentando, sem ir ao banheiro, com meu marido trazendo o prato de comida no sofá. Era um ciclo sem fim. A noite a voracidade continuava.

 

   Na volta ao trabalho não aceitou a colherzinha...Passei dias em ordenha manual, desesperada, procurando vídeos na net e por fim juntei mais de 01 litro de leite que ele não quis. Queria meu peito.

 

   Mudei meus rumos profissionais para me permitir estar nesse momento com ele...Não foi fácil. Sugeriram chupeta, mamadeira mas eu não queria que nada interferisse nesse momento.

 

   O tempo passou. Eu amamentei em livre demanda e com livre acesso sempre. Encurvada no supermercado enquanto empurrava carrinho de compras, sentada no chão de lojas, em pé na fila.

 

   Hoje com dois anos ele pede: Mamain, tetê por favor? PEITÃOOO!

E mama. E beija meus seios. Passa a mão no meu rosto. Alisa minhas costas.

        

   Termina de mamar e fala: “Guigada mamáin!”

 

   Uma vez apenas em dois anos e três meses ele adoeceu. Foi um resfriado que ele se recuperou rápido, nunca deixou de comer para se alimentar exclusivamente do meu leite.

 

   Com o passar do tempo vi que muito do que falam sobre o amamentar é mito. Dizem que crianças que mamam não comem, que nosso leite é fraco e não sustenta, que o peito cai, que o casamento acaba...Mito. Todos mitos.

 

   Vale a pena amamentar sim. É fácil? Não é. Não tive questões biológicas mas enfrentei outras questões...Pedi a conta de um clt de 10 anos. Devolvi um apartamento que faltava 06 meses para ser entregue.

 

   Nosso apego foi tão grande que por um bom tempo não conseguia sair por horas prolongadas, não conseguia ir ao supermercado sem que ele chorasse muito. Com o tempo isso melhorou. Mas o apego ao tetê continua. Quando o amamento vejo olhares julgadores, cara feia. Ninguém pergunta se preciso de uma cadeira, pelo contrário, o que mais ouço é:

 

   -Nossa ele ainda mama? Um bezerrão! Credo ele é grande.

 

   Nunca deixei de amamentar por vergonha ou constrangimento, mas sei que sou parte de uma minoria de mulheres. Sei que tenho privilégios. Sei que a maioria das mulheres brasileiras lidam com o machismo, com a objetificação e sexualização do corpo, com licenças maternidades ridículas, com informações erradas, com falta de apoio familiar e parental.
 

   As mulheres hoje saem do pediatra com receitas de fórmulas artificiais. Médicos fazem isso, mesmo quando a amamentação flui. Como bater de frente com uma cultura dessas?

Por isso e por todas essas mulheres, fiz essa série fotográfica, Indivisível.

 

   Nada divide essa vontade de amamentar, nada divide esse amor, nem mesmo o “insucesso” em amamentar.

 

   Não acredito em amor líquido, um sentimento tão forte não se rotula, não se divide. Com os registros e relatos quero que toda uma sociedade se sensibilize, que todos -homens, mulheres, crianças- não julguem uma mulher que amamenta. Que entendam a importância e tudo o que passamos para aleitarmos num país onde poucos tem esse privilégio.

 

   Quanto a mim não sei onde essa estrada vai terminar. É prazeroso para mim e para ele.

 

   Vamos sem regras, onde nosso coração nos guiar.

Marina Kawanish

Mãe de Clarice e Luísa

   Minha primeira experiência como mãe que amamenta se assemelha à experiência de diversas mulheres que buscaram incentivo e orientações em fontes insuspeitamente não-confiáveis: GO e Pediatra.  

 

   Além de ter tido um parto roubado, nos primeiros quinze dias de vida da Clarice ela esteve grudada ao meu peito por horas a fio, me vi machucada, cansada, cheguei a pedir ajuda ao GO, que disse que era normal estar assim. Recorri ao pediatra e fui orientada a dar 20 minutos de cada peito e depois dar a chupeta para ela sugar. Deveria dar o peito somente a cada 4 horas.  

 

   Se eu desse primeiro o peito direito, na próxima vez eu deveria dar primeiro o peito esquerdo. Aos 5 meses , o pediatra indicou dar suquinho e chá na chuquinha, além do reforço de fórmula na mamadeira após cada mamada, afinal, Clarice não estava ganhando peso.

 

   Ela tinha começado a engatinhar, já, mas isso não foi considerado na conta. Aos 6 meses introduzimos a papinha de fruta 3 vezes ao dia. Aos 7 meses introduzimos a papa salgada, a bebê deveria mamar apenas 3 vezes por dia. Voltei ao trabalho, em duas semanas meu leite secou, e a amamentação acabou. Entendi posteriormente que todo esse processo receitado pelo pediatra era, na verdade, a fórmula do desmame precoce..
 

   Depois dessa experiência traumática de parto e amamentação, para a segunda gestação busquei novas fontes de informação. Para o parto, planejamos um parto domiciliar que terminou em uma cesárea de emergência. Minha bebê mamou com uma força tamanha que no primeiro dia de vida já estourou os bicos do meu peito. Sangravam e eu não entendia onde estava errada a pega. Parecia perfeita. Recebi ajuda das enfermeiras do CAISM e da minha doula, mas ainda doía. “Não pode doer, senão a pega está incorreta”, diziam...

 

   Fui para casa, senti o baque das dores absurdas na região da cesárea, o ciúmes da mais velha pela chegada da irmã e eu sem conseguir brincar com ela, dar colo. Em pleno inverno eu me arrastava pela casa com os peitos de fora, sensíveis e sangrando. Amamentava chorando, uma dor insuportável. Eu havia idealizado uma outra história de parto e amamentação. Eu havia estudado, me preparado, estava cercada de profissionais competentes e amigas com conhecimento científico e experiência... Sentia meu corpo incapaz e aos pedaços. E culpa, muita culpa.

 

   Então, recebi a visita da parteira, falamos sobre o desfecho do nascimento de Luísa, falamos sobre culpa, sobre a necessidade real da cesárea pelo diagnóstico de Desproporção Céfalo-Pélvica, pude confirmar que não poderia haver outro desfecho, o nascimento de Luísa ocorreu da única forma possível e foi o melhor para nós duas. Enfim, eu aceitei minha história, que eu inconscientemente não estava aceitando. E entendi que precisava superar.

 

   No mesmo dia, incrivelmente, as dores da cesárea diminuíram. E conversei muito com a Luísa sobre a situação, sobre a disposição que​ eu tinha para seguir amamentando, prometi a ela que iria entender o que estava errado naquela pega que machucavam tanto meus seios, que ia procurar compreender também suas dores e sentimentos aqui fora da barriga e que estávamos juntas nessa batalha!
 

   Na sequência, recebi a ajuda voluntária de uma amiga consultora de amamentação, ela me ensinou como ordenhar manualmente, como esvaziar um pouco os seios antes de oferecer à bebê, como colocar o peito na boca da bebê fazendo a pinça com os dedos. Além disso, observamos que o problema estava na posição da língua da Luísa, que deveria vir mais pra frente. Passei a fazer uns exercícios com o dedo para que a Luísa colocasse a língua na posição correta.

 

   E foi como tudo melhorou: uso da técnica correta, antes tão facilmente passada de geração em geração, hoje parece um mistério ensinado por algumas bruxas perseguidas pela medicina tradicional. Além da técnica, o vínculo, que decidi reforçar com Luísa a partir do perdão a mim mesma e aceitação da minha história.

 

   Tive a sorte de estar rodeada de profissionais realmente capacitadas, ativistas comprometidas, mulheres sensíveis às dores de outras mulheres, dispostas a mudar a realidade do parto e da amamentação no Brasil.

 

   Até hoje, nada de bicos, nada de restrição de horários. A técnica da ordenha foi fundamental para que eu prosseguisse com a amamentação também na volta ao trabalho e a luta me permitiu levar o leite materno ordenhado  para ser oferecido na creche. Luísa está com 1 ano e 9 meses e seguimos amamentando.

Ana Flávia

Mãe do Matteo

   Minha história de amamentação não pode ser contada sem antes contextualizar a minha gestação.

 

   No primeiro domingo de setembro de 2014, quando a primavera já trazia suas flores, minha família foi surpreendida por uma triste notícia: Meu amado pai descobriu que estava com câncer de fígado, decorrente de uma hepatite que ele convivia (e muito bem!) há alguns anos.     

 

   Essa notícia fez meu mundo desabar, senti muito medo, pela primeira vez experimentei a sensação de "perder o chão"...Foi então, que Deus em sua infinita bondade nos mandou o Matteo, eu estava grávida, descobri na 3a feira seguinte.

 

   Vocês podem imaginar a avalanche de emoções que passei? Ora muito feliz, noutra desesperada... Enfim, esse turbilhão de sensações me acompanhou durante toda a gravidez. Meu pai estava muito feliz com a chegada do neto, todos nós estávamos.

 

   Matteo foi um presente de Deus!

 

   No meio de tantas coisas (eu ainda estava prestes a defender o meu mestrado) eu não tive tempo (9 meses foram pouco) para idealizar a chegada do Matteo, tampouco a amamentação... Minhas energias, forças e orações se direcionaram para que ele viesse saudável - por isso me exercitei, mudei minha alimentação, fiz massagem, me cuidei, e para que meu pai se curasse - acompanhei de perto todo o tratamento do meu pai, pesquisei muito, fui em todos médicos possíveis e imagináveis e fiquei com ele o máximo que pude.
 

   Bom, Matteo chegou com 38 semanas e 1 dia. Todos estavam na maternidade, meu pai foi a primeira pessoa que nos viu, chegando no quarto ele conheceu o neto, meu coração podia se aquietar um pouco.

 

   Agora sim, vou começar a contar sobre a amamentação em si.

 

   Meu pequeno mamava muito desde sempre, meu leite desceu ainda no hospital, uma benção! No hospital lembro de uma enfermeira me dizendo: "Mãezinha, seu mamilo já está vermelho, a pega está errada" e dela tirá-lo do meu peito e posicioná-lo de outra forma, que não aprendi.

 

   Fomos para casa e a tal "pega" ainda estava errada, amamentar passou a ser um momento de MUITA dor, eu chorava alto, queria gritar, me segurava no meu marido, não tinha forças e assim foram passando os dias.

 

   Eu amamentava aos prantos!

 

   Quando Matteo tinha uns 15 dias a pediatra o avaliou e disse que ele estava ganhando pouco peso e que eu deveria complementar. Meu mundo desabou! Como assim? Eu me matando para amamentar e meu leite não era o suficiente? Ela me deu prazo para que ele ganhasse peso: eu tinha que ir ao consultório dia sim, dia não para acompanhar.

 

   E assim fizemos: Em casa Matteo plugado nos meus seios 24h, no consultório ponteiro da balança só subindo. A essa altura meus seios já estavam muito machucados, muito mesmo! E assim foram os primeiros três meses: muita dor, lágrimas, tive candidíase mamária de tanta pomada que usei (fica a dica: não exagerem nas pomadas), depois tive um fungo nos seios sei lá eu porquê. Mas nunca pensei em desistir!

 

   Meu marido hoje fala: "Eu achava que você ia me pedir para comprar fórmula a qualquer momento", isso NUNCA me passou pela cabeça, meus planos eram amamentar até quando Matteo quisesse!

 

   Enfim, os meses foram passando, Matteo foi aprendendo a mamar "do jeito certo", meus seios cicatrizando e pude finalmente experienciar o prazer da amamentação! Estava no céu! Neste meio tempo, meu pai começou a ter alguns quadros de encefalopatia (que já anunciavam a falência hepática), foram algumas internações, a primeira quando Matteo tinha 5 meses,  mas ele sempre muito forte "se saia bem" e voltava para casa... estou trazendo isso para este relato, pois acho importante pontuar que, mesmo na correria entre trabalho, casa, hospital não deixei de amamentar, tirava leite para deixar para o Matteo nos momentos em que me ausentava.

 

   Era uma correria entre: hospital, para cuidar de meu pai, casa, para alimentar meu filho... Seios cheios, empedrando, novamente dor... Mas, "dar conta" da amamentação era meu foco, por amor ao meu pequeno e pelo prazer que eu sentia com este ato!

 

   Amamentei exclusivamente até os 6 meses e tinha plena certeza de que amamentaria "para sempre". Matteo completou um ano, meu pai pode estar conosco na festa (que alegria!) e seguimos felizes com a amamentação. Nada de bicos artificiais, chupeta , fórmulas, nada! Estávamos felizes com nossa história de amamentação, apesar das dificuldades.

 

   Um mês após Matteo completar 1 ano meu pai faleceu, nem preciso pontuar o tamanho de minha tristeza, né?

 

   Mais do que nunca, ter meu filho plugado em mim, mamando era um alento à minha alma.

 

Era amor líquido.

Era toque.

Troca de olhares.

Sensação de plenitude
 

   Duas semanas após a passagem de meu pai eu descobri que estava com câncer de mama.

 

   Sim, câncer de mama!

 

   Acredito que "guardei" muita coisa neste processo desde os sentimentos antagônicos da notícia da chegada do meu filho com a possibilidade de perder meu pai. Acredito que o corpo adoece quando a alma "não dá conta".

 

   Meu maior desespero era pensar no desmame abrupto. Matteo mamava muito ainda, ele ia mamar até quando quisesse!

 

   Amamentação era AMOR!

 

   Matteo NUNCA tinha pegado bico artificial.

 

   O que eu ia fazer?

 

   Interromper a amamentação foi a parte mais difícil do tratamento, sem dúvida.

 

   Já passei por quimioterapia, cirurgia - mastectomia bilateral, o que significa que nunca mais poderei amamentar, o que foi outro baque, pois acreditava que acabando a quimio voltaria a amamentar o Matteo (esse era o plano),  agora faço radioterapia… Mas nada se compara a dor de ter meu filho chorando em meus braços e não poder dar-lhe o peito, estou aqui em lágrimas escrevendo esse relato só de lembrar.

 

   Espero ainda, se Oxalá assim permitir, ter outros filhos. Sei que não poderei alimentá-los com meu leite, mas como a Vanessa disse: "O amor não é líquido, é indivisível"

 

   Por último, gostaria de agradecer a Van por essa iniciativa linda!
 

   Fazer as fotos me devolveu o sentimento de "poder", me fazendo perceber que eu fiz o possível pelo meu filho e isso é o melhor que podemos oferecer aos nossos pequenos.

 

   Tive que parar de amamentar para me manter viva. E é da nossa vida que se alimentam nossas crias desde nosso ventre.

 

   Eu carregava muita culpa por ter interrompido a amamentação de forma tão abrupta, fazer as fotos me permitiu refletir, resignificar esse momento que foi tão difícil para nós.

Cindy Ferrari

Mãe de Pedro

   Na foto uma mãe amamenta o seu bebê.

 

   O que pensam ao contemplar a imagem? Um bebê e sua mãe, num momento comum? Um momento especial eternizado através de uma fotografia? Um ato simples e natural porém profundo? Traz saudade dos seus filhos que já são crescidos?

 

   A fotografia captou o momento exato da troca, do amor, do carinho, do afeto. A imagem é expressiva e delicada. Única. Me emociona e faz transbordar de amor só de olhar cada detalhe da perfeição daquele dia, eu e meu Pedro, naquele momento que foi só nosso.

 

   Quando olhamos para um fotografia de uma mãe e bebê, por mais que a gente tente, nunca é possível imaginar a história daquela mãe e bebê além da imagem que vemos. Apenas sentimos o momento. Mas conto aqui para você um pouquinho da nossa história:

 

   Era uma vez uma mulher que sonhava ser mãe. Entre perdas, veio o presente da luz da vida. Um amor crescente e infinito fez-se presente dia a dia. Aquela foto, marcou a nossa história pois ali comemoramos exatos 365 dias de troca, de amor, de colo e presença.

 

   Aquela foto mostra uma mulher totalmente diferente da mulher de 1 ano atrás: Insegura, sensível, chorona, sentindo-se perdida com um pequeno bebê que também chorava e que passou por momentos de dor intensa para amamentar. Quase desistiu de amamentar (é, amamentar não é fácil como pensam!), mas na persistência, com amor, veio então o prazer da amamentação, aquela dos sonhos e que vemos nos filmes e novelas.
 

   Comemoramos naquele dia, 365 dias de livre demanda, de amor líquido sem previsão de cessar. Uma foto não expressa a transformação que mãe e bebê vivenciaram desde o início até aquele momento, mas eterniza uma das experiências mais incríveis que uma mãe pode viver.

 

   Não há nada que traga mais felicidade e plenitude para uma mãe, que ter um bebê nos braços, aninhado junto ao peito mamando, transbordando amor, segurança e proteção. Nada precisa ser dito, na sincronia das respirações e nos olhares que se encontram e se reencontram, nenhuma palavra precisa ser dita, tudo é sentido e compreendido na natureza do olhar, na mãozinha que me toca, nos cabelinhos macios e suados no meu braço.

 

Tudo se traduz na sutileza daquele momento.

Maria Carolina Machado

Mãe de Iara

Vasculho a pasta “parto Iara”. O registro do início de uma viagem encontra-se nela. Data: 22 de abril de 2016. Hora: 02:53. Local: o meio da sala do apartamento onde cresci. Lua: cheia. Chego na seqüência de fotos da primeira vez que nos olhamos, da primeira vez que ela mamou em mim. Peito como natureza. O cordão umbilical ainda pulsava. Eu segurava aquele corpo fresco, aparava a cabeça com o braço. Ela mamou no seio esquerdo. Ela abocanhou o mamilo com lábios de peixe, abriu os olhos, me encarou e mamou no seio esquerdo. A partir desse dia me metamorfoseei - hora eu era concha, hora almofada, hora gamela, hora terra orvalhada. No terceiro dia, desaguei e não parei mais de transbordar. O início foi de uma dor fina e aguda. Peito como alimento. O peito entumecido formigava e por todos os caminhos o leite descia. A lágrima descia. Eram muitos os fluidos. Todos eles juntos viraram poção de encantamento: suor, saliva, leite e lágrima. Eu tinha que apalpar e sacolejar a mama para não doer tanto. Transformamos a nossa relação a cada pegada. Ela foi me amaciando. A fome era voraz. O lado esquerdo do sofá ficou abaulado por nosso corpo uníssono. O corpinho dela todo ritmado, um barulhinho de líquido puxado pela língua mecanicamente integrada ao todo e ao fundo assobios de passarinhos. Ela me sorvia como se não houvesse amanhã. Realmente, não havia noite e nem dia. Toda hora era hora. O tempo dava loops. Estávamos na nossa caverna de estalactites e estalagmites de leite. Eu gotejava. De longe ouvia-se o barulho dos pingos. Toda segunda-feira vinha uma bombeira pegar os gotejos doados de uma semana inteira. Deixamos também pingos pelo caminho - nas roupas, no colchão, no sofá, na pia, no azulejo, no elevador, na grama, no metro, no banco, na faixa de pedestre, no tapete, no figurino, nas dobras da barriga, na pele flácida, por entre as pernas. Todo lugar é lugar para mamar.

Enquanto eu amamentava, minha mãe me dava comida na boca. Peito como cria. Após os 3 primeiros meses, nossos cheiros e gostos já eram reconhecidos. Senti um flerte de segurança para topar uma turnê do teatro. No primeiro choro gritado pelo peito roubado, que precisava entrar em cena, quase desisti. Confiei em mim e nas pessoas que eu amo. Que seja doce! Foram cinco meses na estrada. Peito como bagagem. Voltamos. A marretada que é um dia após o outro. A trama larga de uma rotina. O descontrole que é a maternidade. Peito como redenção. Crio uma questão com a introdução alimentar. Vivo dúvidas. Sinto incapacidade. A cozinha não é o meu lugar. Ressignificar o não lugar. Peito como ciúmes. O que era pra simplesmente ser, acaba se perdendo em teorias, métodos, dicas. Tenho que fazer o energético do aquecimento de atriz para esvaziar a mente. Voltar a ser potência. O instinto como guia. Tenho que dizer que ela pode se entregar, que o mundo é muito gostoso e que o peito estará do outro lado da linha para quando ela precisar. Ela come de corpo inteiro. Ela fica no meu colo, toca a comida e mama, cheira a comida e mama, come do meu prato e mama. Peito como paciência. Durante uma das mamadas, assisti o documentário “She’s beautiful when she’s angry”, que apresenta a criação e a evolução do movimento feminista americano nos 60 e 70. Por vezes, me sinto impotente ao tentar me refazer. Uma saudade que eu nem sei do que. Peito como prisão. Deixar morrer para fazer nascer é uma labuta. Resistência, Resiliência e Resignação. Tenho que exercitar que livre demanda não é livre acesso. Ela é pura autonomia. Relação carnal. Puxa a minha roupa, dedilha o mamilo, crava a unha, mordisca a pele, intercala em segundos cada teta. Deitamos uma ao lado da outra. Ela se encaixa no meu contorno. Eu acarinho o dedinho do seu pé. Ela mama, mama e mama. Eu fecho os olhos e transcendo. Depois de quase 1 ano de nós, me olho no espelho, limpo a poeira levantada e vejo as marcas da nossa história. Peito como prazer.

Dani Scopin

Mãe de Moreno

   07 de abril de 2017, sexta feira. Hoje Moreno completa 1 ano e 11 meses.

   Há 03 noites, na terça lá pelas 20h, durante o ritual do sono – diminuir o ritmo, papai escolhendo junto a estória pra contar, etc -  já jantados e de banho tomado, esse pequeno ser humano se dirige decidido para seu quarto e apontando para seu colchão no chão, nos comunica: hoje eu quero dormir aqui, no quartinho do Moreno!

   Pausa de alguns segundos na respiração e no pensamento da mãe, que busca o olhar do pai como quem tateia desequilibrada, procurando o corrimão da escada rolante que desce. Reencontra o equilíbrio no olhar doce e divertido (e também surpreso!) do companheiro, a respiração e o pensamento retomam o fluxo e aparece um frio na barriga.

   Claro, filho! Vamos lá! Lemos algumas estórias, ele mama e dorme. Das 21h as 5h30. Chama “mamãe, quero mamar um pouquinho”, volta a dormir até 8h, aproximadamente.

   Ele não pediu para voltar para o nosso quarto, onde dorme desde o dia em que nasceu.

   Porque eu gostaria de compartilhar isso? Porque eu sinto que essa tomada de decisão tão segura e emocionante tem muito a ver com as escolhas que fizemos até aqui.

   Moreno mamou em livre demanda, sempre. Há um mês atrás iniciamos o desmame noturno, agora ele mama antes de dormir e depois quando o sol acorda e os pássaros vem dar “bom dia”. Durante o dia segue mamando quando quer, mas estamos estabelecendo algumas regras... “não dá mais para mamar enquanto a mamãe caminha, no supermercado, filho! Vamos encontrar um lugar confortável para nós!” “não gosto que você arranque minha blusa assim que me vê, quando te pego na escola, vamos chegar em casa e mamar tranquilos, na poltrona gostosa ou deitados na cama!”, “vamos esperar a aula de música acabar, ok!?”, etc. Mas ele sabe que pode mamar, sempre que quiser ou precisar, mesmo que não sinta fome, que seja só pra certificar de que estou por perto, para se acalmar de um tombo ou susto, etc.

 

   De lá para cá, sinto que algo se transformou, algo de uma grandeza indizível está acontecendo dentro dele, dentro de nós (sempre!), com muita força. Estamos crescendo, juntos. Estamos nos separando e nos conhecendo e amando cada vez mais por isso, apesar da dor. Amamentar para mim é um dos símbolos máximos desse processo – assim como o parto - é enquanto ele mama e nossos corpos estão tão juntos ou enquanto negociamos a espera de alguns minutos para estarmos mais confortáveis, ou enquanto conversamos sobre o tema que tanta coisa ensinamos e aprendemos um com o outro, um sobre o outro.

   Nunca tive nenhuma dificuldade com a amamentação, além da sensação nos primeiros meses de que eu me transformara em um par de tetas com pernas e sem necessidades próprias, da doação absoluta de tempo e energia... Não consigo ver esses pontos como dificuldades na verdade, mas como parte da coisa toda. A mãe que nasceu em mim acredita mesmo que isso é o melhor a se fazer.

 

   Nunca tive rachaduras nos bicos, dores muito intensas nos seios... Moreno acertou a pega na primeira mamada e nunca me mordeu, mesmo quando rasgaram os caninos!

   Se eu tivesse que contar algo difícil sobre a amamentação, contaria como é dolorido ver tantas (tantas!) mulheres mau orientadas e desrespeitadas por profissionais da saúde, familiares e pelos próprios parceiros, que além de não ajudarem nesse momento, cuidando e protegendo a mãe recente, ainda atrapalham, enchendo suas cabeças com perguntas e dúvidas inúteis e por vezes, perversas!

 

“seu leite é fraco, não desceu, dê fórmula, seu peito é pequeno demais, grande demais, duro demais, mole demais!”, “você não sabe o que está fazendo, melhor ligarmos para minha mãe”, “essa criança mama demais, mama de menos, chora demais”, “você precisa se cuidar, ou seu marido vai arrumar outra mulher, seus peitos vão cair se ele mamar tanto assim, ele já está muito crescido para continuar mamando”, “se continuar dando o peito ele nunca vai comer comida”, “meninos são uns safados, se não tirar o peito eles não desmamam nunca!”, “você está o tempo todo com o bebê no colo, estou cansado, isso é loucura!” “você não quer cobrir seus seios enquanto amamenta, querida?”, “do jeito que essa criança depende de você, você nunca vai conseguir voltar a trabalhar!”, “você não pensa em voltar a trabalhar?”

 

  A lista não tem fim e pode piorar muito ainda.

   Aproveito esse convite precioso da Vanessa, para fazer um convite a todas as pessoas que por qualquer razão leiam estas palavras: abram um espaço generoso nos seus corações e nas suas crenças, para olhar para as mulheres com muito, muito mais respeito! As que amamentam e as que por qualquer razão, não amamentam. Busquem se alimentar do que existe de sagrado e maravilhoso no nascimento de uma criança e na potência de uma mulher que pari e alimenta um filho. Se permitam transformar por este acontecimento explosivo de vida!

   Aos companheiros e companheiras de mães recentes: estejam atentos à mãe de seu filho ou filha, se esforcem para suprir suas necessidades com muito afeto, não duvidem delas, da saúde delas, do corpo delas, do instinto delas. Se estão cansados e confusos, acreditem, ela está ainda mais, precisando que vocês lhes sejam equilíbrio, alimento, ancoradouro. Vocês provavelmente passarão por momentos muito intensos e difíceis e a maneira como se comportarem nessa fase poderá determinar o rumo do relacionamento, que pode se tornar ainda mais forte e melhor, mas também pode acumular feridas que darão bastante trabalho para sanar.

É possível que o corpo da sua parceira nunca mais volte a ser como era, que ela nunca volte a ser como era, que vocês nunca voltem a ser o que eram... e isso pode ser muito bom.

   Não tenho absolutamente nenhuma dúvida de que uma possível revolução, para a transformação do mundo num lugar muito melhor para se viver, está em olhar o parir e o amamentar como acontecimentos sagrados, que precisam de muito menos intervenções e opiniões, mas serem reverenciados e cuidados por todos, assim como as crianças e as famílias que nascem.

   Por fim, aproveito para expressar minha gratidão e amor ao Mauro. A cada dia tenho mais convicção de que fiz a escolha certa, lhe permitindo ser o pai de meu filho e me permitindo ser a mãe de seu filho e a Moreno, por nos ter escolhido como pais.

Patricia Amorim

Mãe do Heitor

   Sou a Patricia, 29 anos, mãe do Heitor, 5 meses. Ao terceiro dia após o nascimento do Heitor (por parto cesáreo após transferência de parto domiciliar) meu leite desceu, foi uma emoção indescritível e com ela vieram também as dores desse processo desafiador.

 

     Passada a etapa do choro, da dor, vieram às alegrias e o sentimento feminino de empoderamento por saber que você transmite vitalidade, força e crescimento para o seu filho; nossos corpos estão conectados, em perfeita sintonia.

     Até nos momentos críticos, diante de problemas de saúde por conta de uma pedra na vesícula, meu bebê sensivelmente entendeu a situação e esperou o momento mais oportuno para pedir o seu mama.

 

     Estamos só no começo da nossa caminhada, ainda vamos enfrentar meu retorno ao trabalho e minha vida de estudante de doutorado, mas seguimos otimistas...nós mulheres somos polivalentes por natureza, e temos de enfrentar além de todas as tarefas diárias, os julgamentos, os conselhos inoportunos e um discurso feminista que nem sempre acolhe os desejos das mães que lutam para amamentar os seus filhos.

 

     É preciso reconhecer: o mundo do trabalho, o mercado e aquilo que chamam de "modernização", somente reprimem às mulheres que desejam expressar-se com liberdade e que desejam ser o que quiserem ser. Fiz questão de destacar como foi o meu parto, pois sei que inúmeras mulheres sofrem e não conseguem amamentar, após verem não concretizada a sua ideia sobre o parto.

 

   Pela minha experiência, não tive o parto que planejei, mas vivi o que foi possível, essa foi a minha história e eu a aceitei. Todas as mulheres podem amamentar, independentemente da via de parto.

 

     Faça o teste: persista por mais de 15 dias pelo menos, você verá que com ajuda especializada, amor e determinação, os problemas de adaptação serão superados. Minha amamentação fluiu super bem, meu bebê aprendeu rapidamente e essa troca nos completa e nos enche de vida!

Ana Luíza 

Mãe da Ana Eduarda

   Sou mãe de três meninas. Ana Lauryen 15, Ana Yasmin 12 e minha caçulinha Ana Eduarda de 11 meses.

   Amamentei as três. Engravidei da Lauryen muito jovem, com 18 anos, tinha acabado de deixar a casa da minha avó materna, que foi quem me criou. Imatura, crua de tudo e de repente, grávida! A princípio, achei que era o fim, que minha vida ia acabar como diziam, como iria cuidar de um bebê se eu mal sabia cuidar de mim, o medo do que viria a partir dali, tomou conta de mim, mas conforme os dias foram passando, a barriga crescendo e ela se mexendo, pronto, o medo deu lugar ao amor maior do mundo.


Assim, como foi gerada de forma inesperada, também nasceu num dia inesperado.


Era terça de carnaval, minha escola Gaviões da Fiel havia ganhado, eu já estava com 9 meses, mas me sentia muito bem e a DPP era pra semana seguinte, então resolvemos ir comemorar o título na quadra da escola, porém no caminho, senti umas dorzinhas incomodas, que jamais imaginei ser o início das contrações e então pedi pra que passássemos no hospital pra eu tomar um injeção e assim cessar aquele incomodo. Ledo engano, eu já estava com 5 dedos de dilatação e me internaram, isso por volta das 14h, quando foram 17:15 ela veio ao mundo.

 

   Ah! Que  alegria! A enfermeira colocou ela em cima de mim, eu não sabia muito bem o que fazer, coloquei ela próximo ao peito, nos olhamos e imediatamente ela pegou o peito e mamou e assim foi ate os 3 anos, quando chegou sua irmã Yasmin e ela intuitivamente assim que cheguei da maternidade não quis mais mamar, como se dissesse: Agora o mama é da minha irmã!


   Yasmin mamou, sem intercorrências ate os 6 anos, quando achei que ela já estava bem grandinha e resolvi tirar.
   Doze anos depois chegou Eduardinha, numa fase da minha vida em que a " fábrica já estava fechada" ou pelo menos eu pensava que estava e trouxe muito mais cor, amor, alegria e novamente o prazer de amamentar.

 

   Essa magia inexplicável, eu amo amamentar, olhar nos olhos enquanto o bebê se alimenta, saber que meu corpo gera o alimento, que sacia, protege é realmente incrível. Ouvi relatos de  muitas mães que tentam e não conseguem, por isso sou grata ao universo por essa dádiva, por esse dom que é ser o alimento pras minhas meninas que estão 99% do tempo fortes e saudáveis.

 

Gisele Leal

Mãe de Beatriz, Arthur, Catarina e Sophia

 

" Amamentei na medida da minha informação. Venci desafios na medida do conhecimento que eu tinha. "

Amamentei meus 4 filhos. E foram 4 experiências muito diferentes. Amamentei na medida da minha informação. Venci desafios na medida do conhecimento que eu tinha.

 

Cada experiência foi única e de muito aprendizado. Amamentei no total 111 meses, sendo desses - 99 meses 9 anos e 6 meses quase que ininterruptamente. Com pequenos intervalos entre o fim da amamentação de um filho e o nascimento de outro.

 

Não foi fácil.Nem sempre foi prazeroso. Mas é possível. Então mesmo quando você achar que não consegue mais, que está muito difícil lembre que sim, é possível. Procure ajuda de uma especialista em amamentação.

 

Procure um espaço que te acolha e que possa te ajudar nessa missão. Viva um dia de cada vez.

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